As incertezas das condições climatéricas do passado domingo dia 23 não foram impedimento para muitas centenas de pessoas se fazerem presentes em Alvelos (concelho de Barcelos) tomando
parte na “Procissão dos Passos”. Instituída há dois anos, esta procissão promovida pela Confraria do Santíssimo Sacramento da Paróquia de São Lourenço de Alvelos, foi, uma vez mais, caraterizada de fé e devoção, bem como por uma assistência muito respeitosa e atenta.
Os atos religiosos tiveram início na capela de N. Sra. do Socorro, com o canto do grupo coral paroquial, seguindo-se uma saudação aos presentes pelo Pároco local e depois o Sermão do
Pretório, a cargo do Cónego José Paulo Abreu.
Na saudação inicial o orador convidou a “Olhar para a Cruz de Cristo percebendo a mensagem que dessa Cruz chega para todos”, desafiando cada um a ambientar-se nesse amor infinito e apaixonado de Jesus por nós”. Tal como explicou, o propósito dos “Passos” é “acolher este Senhor que por nós morreu na Cruz, depois ressuscitou, assim dominou todos os nossos inimigos, a morte incluída.
Estamos, pois, caríssimos nesta tarde para vivermos a Paixão de Jesus, para calcorrearmos o seu caminho da dor e o seu caminho da ressurreição.” Nas primeiras palavras proferidas ficava
destacado o essencial deste momento dominical.
A reflexão seguiu-se no Sermão do Pretório, destacando-se três questões: “Em que pensas Jesus, enquanto transportas esse madeiro? Não queres desistir? E agora, que esperas de nós?”
Nas perguntas dirigidas a Jesus fomos convidados a fazer um périplo pela história da salvação recordando algumas figuras bíblicas e as suas (e nossas) faltas. Desde a desobediência de Adão e
Eva até aos pecados da humanidade inteira, ficou patente o “filme da nossa pequenez, da nossa debilidade, da nossa desobediência, do nosso não acatamento ao querer de Deus. Vimos o filme da
distância que vai entre o nosso amor e o amor infinito que Deus nos dedica.” Confrontado com a proposta de desistir, refletimos na afirmação de Jesus: “não penses que eu fujo à cruz do
compromisso, nem sonhes com uma coisa dessas”, vincando ainda o orador, que “Jesus não desiste e por isso o acompanhamos neste caminho até ao Calvário”. Mas, ao fazermos este caminho,
desafiou a que tivéssemos dois sentimentos: “o arrependimento e a gratidão.” “É preciso passar o filme da vida e pedir perdão pelas vezes em que pesamos na Cruz do Senhor e falhamos. Saibamos
pedir perdão. Saibamos agradecer ao Senhor. Seja de amor a tónica deste momento, esse amor que de Deus queremos receber, este amor que agora com Deus e com os outros queremos
partilhar.”
O ponto alto da tarde aconteceu quando o cortejo, com a imagem do Senhor dos Passos, atingiu o adro da igreja paroquial, onde, defronte da estátua de N. Sra. das Dores, foi pronunciado o Sermão do Encontro. Primeiramente, o pregador lembrou-nos do “triste espetáculo”: dos maus-tratos em casa de Caifás, do gozo de Herodes, de Barrabás – uma escolha do povo, da flagelação, da
condenação ao calvário, do sangue no chão que indica o caminho, das chagas da cabeça e dos pés, da coroação de espinhos e do pesado madeiro às costas. Mas definiu a tristeza do espetáculo por
outra razão, afinal estamos perante uma “terrível ingratidão”, fazendo referência a algumas perguntas em catadupa, lembrou: “onde estão aqueles a quem sempre privilegiastes, a quem
sempre fizestes bem, todos os que foram contemplados pelo Seu infinito amor? O abandono de tantos foi uma debandada…” Porém alguém apareceu no caminho: as santas mulheres de
Jerusalém, Verónica e Maria, sempre lá (da Anunciação à Paixão, da Paixão à Ressurreição, da ressurreição ao Pentecostes).
O “canto de Verónica” foi, também, um momento ímpar, onde os fiéis presentes foram elucidados pelo Cónego José Paulo Abreu sobre o gesto de Verónica. “Neste gesto ela está hoje a dizer o que
nos cabe fazer a quem tem a cara magoada pelos sofrimentos da vida. Verónica vem dizer que podemos ser melhores, fazer melhor, amar mais a Jesus e podemos mostrar o amor que temos a
Jesus amando os outros. Limpar o rosto do irmão, primeira grande lição deste dia, a contrastar com tanta treva, com tanta maldade, com tanto pecado e com tanta perfídia, é preciso lavar o rosto dos outros. Obrigado, Verónica.”
Aquando do comovente encontro de Jesus com sua Mãe, o Deão do Cabido da Sé de Braga, focou a sua reflexão final na figura da Mãe querida, a Virgem Dolorosa. Pediu a Nossa Senhora para:
“cobrir Jesus com o seu olhar de ternura; para o abraçar; pedir-lhe perdão por nós; que interceda junto de Jesus por todos; que olhe pelas vítimas de guerras, violências, opressão, abandonados,
solitários, incompreendidos, esfomeados, sem teto, sem condições; que console os tristes e enlutados; que cuide dos desempregados, desiludidos, desesperados; que reerga os andam por
maus caminhos. Cuidai Maria e Jesus da humanidade inteira.”
A finalizar este “encontro na esperança, no amor e na fé”, o pregador deixou uma palavra de gratidão: “Obrigado Jesus, Obrigado Mãe (por tanto dom, pela salvação oferecida, pela proteção e
carinho, pela misericórdia e bondade, por tanto amor).”
Presidiu a este ato religioso o Pe. Albino Faria, sacerdote deste arciprestado, acolitado pelos seminaristas Pedro Oliveira e Adélio Moreira. A Banda Filarmónica da Associação Musical de Vila
Nova de Anha integrou esta efeméride.
Gratidão à centena e meia de figurados que, com generosidade, foram partífices ativos neste cortejo, representando quadros bíblicos da Paixão de Cristo.
A Procissão dos Passos, tem como objetivo ajudar os fiéis na vivência deste período quaresmal e, apesar de muito recente, é já uma grande manifestação de fé. Trata-se de um convite a um olhar
penetrante para Cristo. Que estes “Passos do Senhor” nos levem a uma conversão de vida. Urge trazer no coração os mesmos sentimentos de Jesus que veio para que o mundo fosse salvo por Ele.
Urge vencer as diferenças, as inimizades sociais, pois somos todos irmãos e irmãs.
O Pároco, Pe. Paulo Sá.
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